Os componentes de cadeias produtivas de um modo geral vêm sendo cada vez mais exigidos no tocante a profissionalização e aumento da eficiência em seus processos, onde parte desta demanda é resultante de uma necessidade direta de incremento da lucratividade do negócio e uma questão latente é a busca da sociedade por consumir produtos SUSTENTÁVEIS, considerada por muitos um “modismo” esta demanda já passou de tendência à realidade na maioria dos mercados de consumo globais e tem ganhado muita força no mercado nacional nos últimos anos.
O que seriam produtos sustentáveis?
Trata-se de um conceito amplo, onde todos os elos da cadeia responsáveis por colocar um produto na mesa do consumidor devem perseguir a máxima “fazer mais com menos”, ou seja, atingir níveis de excelência em produtividade utilizando o mínimo possível de recursos.
Na pecuária, seja ela de leite ou corte, a sustentabilidade passa inevitavelmente pelo melhoramento genético animal, pois somente com um rebanho especializado pode-se empregar insumos, tempo e energia afim de se obter o máximo resultado do sistema de produção, e isto se aplica aos mais variados sistemas adotados.
Possuir um rebanho eficiente é perseguir a homogeneidade em relação a características desejáveis mantendo a variabilidade genética, o que de forma prática é realizado através de seleção e acasalamentos dirigidos, que combinados potencializam e promovem o ganho ou a perda em termos de mérito genético, dependendo das decisões tomadas.
Portanto, promover melhoramento genético é antes de qualquer coisa tomar decisões, o que pode ser feito de forma mais ou menos acertada levando em consideração a quantidade e qualidade das informações disponíveis, os critérios adotados e a estratégia aplicada no processo.
Quais informações estão disponíveis para a tomada de decisão de seleção?
Praticamente desde que se iniciaram os processos de domesticação dos animais avalia-se visualmente características individuais, o homem passou a enxergar em alguns animais uma performance mais favorável relacionada a finalidade para qual os criavam, e a partir deste ponto surge a tradicional seleção por pedigree ou famílias, que leva em consideração as informações individuais dos animais presentes na genealogia para as decisões quanto a seleção.
No século XIX (meados de 1800), surgem as primeiras mensurações parametrizadas, quando começa-se a entender que não se pode escolher o que não se mede e principalmente sem base de comparação, são instituídos os primeiros programas de coleta de informação de performance (informações fenotípicas) e controle de genealogia, o que forneceu mais embasamento para as tomadas de decisão, pois neste momento depois que um animal cumpria seu ciclo produtivo podia-se compara-lo com os demais animais do rebanho, proporcionando maior subsídio de informação.
Todo o processo de coleta de informações de produção e ainda controle de pedigree contribuiu para o desenvolvimento do modelo animal com avaliação genética de características quantitativas, ou seja, nos permitiu utilizar essas informações para compor um modelo estatístico capaz de gerar valor genético (DEP- Diferença Esperada na Progênie ou PTA- Potencial de Transmissão Previsto) que é basicamente composto pelas informações de desempenho do animal, a sua matriz de parentesco e ainda o desempenho de seus filhos e filhas.
O Modelo Animal trouxe um avanço muito grande para o processo de seleção, com os testes de progênie para machos e os avanços biotecnológicos que possibilitaram a inseminação artificial em escala comercial, machos provados como melhoradores puderam ter seu material genético multiplicado em escala antes inimaginável, em diversas partes do mundo que não teriam acesso a essa genética.
As fêmeas também têm seu valor genético gerado a partir do mesmo modelo estatístico, que necessita de quantidade e qualidade de informações para gerar os resultados com maior acurácia, desta forma estendendo o tempo em que as decisões precisam ser tomadas ainda com informações de baixa acurácia. Por exemplo, a predição de valor genético com base nos resultados dos pais tem confiabilidade máxima em torno de 25%, o que quer dizer que o desvio ainda é muito grande para a característica avaliada no processo de seleção, sendo ainda mais baixas para características de baixa herdabilidade.
Buscando agilidade no processo de gerar informações confiáveis com o intuito de economizar tempo e muito dinheiro, foram impulsionadas diversas frentes de pesquisa, dentre elas o que conhecemos hoje por Genômica, que apoiada nos avanços da Biologia Molecular, começou a expandir seus conhecimentos sobre a composição do DNA e como utilizar essas informações na avaliação genética.
Se promover melhoramento genético nada mais é do que aumentar a frequência de genes desejáveis em uma população, nada melhor do que conhecer esses genes e sua influência no desempenho dos indivíduos para que os correlacionando com dados produtivos confiáveis se possa desenvolver o que se chama de Equação de Predição, que adicionada ao modelo animal tradicional nos permite aumentar a acurácia da informação gerada ainda sem dados de produção do animal ou de sua progênie.
A informação Genômica pode adicionar à acurácia da avaliação genética de um animal o equivalente a 36 a mais de 140 filhas em teste de progênie, dependendo da herdabilidade da característica avaliada, fato que agrega muito mais valor a esta informação.
A consequência destes estudos e da popularização da Seleção Genômica tem potencial de incrementar de forma exponencial o ganho genético em uma população e/ou rebanho, pois permite que todas as decisões de Seleção e Acasalamento sejam tomadas de forma mais segura quando uma avaliação genômica de um indivíduo com dias de vida, ou até mesmo de um embrião, alcança níveis de 60 a 75% de acurácia, mais que o dobro se comparada a avaliação parental simples.
Desde 2009 os machos da raça holandesa nos Estados Unidos vêm sendo selecionados através de marcadores moleculares, este processo acelerou o ganho genético do rebanho nacional, porém a partir de 2011 o processo ganhou escala e importância comercial com o aumento do uso da Seleção Genômicas nas fêmeas, o que por sua vez permite que o produtor se beneficie integralmente da utilização da tecnologia, trazendo o ganho exponencial para dentro de seu próprio rebanho.
No entanto, no Brasil temos visto a utilização pontual da tecnologia de seleção genômica, com amostragens que nem sempre representam o rebanho de forma ampla e por isso geram informação limitada para tomada de decisões. Com isso o produtor não explora o potencial de ganho genético e econômico da ferramenta, acaba direcionando o processo ainda com base em informações de parentesco, avaliação visual ou até mesmo resultado de exposições (que possuem grande influência ambiental).
É extremamente aconselhável que produtores estejam cercados de bons profissionais, que realmente trabalhem o melhoramento como parte integrante do processo produtivo, um fator que compõe de forma efetiva a Sustentabilidade do negócio e que ainda participem do processo de aprimoramento e atualização da tecnologia por meio de contínua coleta de dados zootécnicos, como mensurações e avaliações lineares.
Portanto, fazer do seu um “rebanho da moda” é utilizar todas as ferramentas possíveis para torna-lo cada vez mais eficiente e sustentável, gerando maior lucratividade e contribuindo para uma cadeia produtiva cada vez mais forte e competitiva no cenário mundial.
Rafael T. Ribeiro
Médico Veterinário